Crianças Vegetarianas: elas sabem do que estão falando
- Bruna Miato
- 11 de dez. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de jul. de 2020
Por Bruna Miato
Desde que as primeiras sociedades começaram a se formar há grupos que são oprimidos, que não têm um poder de fala forte, aos quais não é conferida a validade para expôr suas opiniões e experiências. Muito se fala de grupos de extrema importância como as mulheres e os negros, por exemplo. E, por mais que ainda hoje se veja muita discriminação, esses mesmo grupos começaram a ter seus direitos reconhecidos e vêm ganhando mais espaço para falar.
No entanto, ainda há um grupo que é muito marginalizado: as crianças. Pela pouca idade, muitas vezes a sociedade desconsidera toda a sabedoria que os pequenos podem ter e se perde muito com isso. Nesse sentido, hoje vamos conhecer duas crianças que têm um ponto em comum - o vegetarianismo - e deixar que elas contem suas histórias e descobertas.
O primeiro e mais novinho, de recém completos 7 anos, é o Pedro Antônio. Ele já nasceu numa família vegetariana e acha isso ótimo porque, assim como repete muitas vezes, “carne é animal morto, e a gente tem que deixar os animais vivos para cuidar deles”. Desde pequeno ele já é um forte militante desse movimento: não tem papas na língua para falar o que pensa sobre comer carne. Mas, não se engane, o Pedrinho é super carinhoso e compreensivo:
“Eu sei que comer carne pode ser bom, mas a gente tem que entender que os animais comem uns aos outros porque eles não têm quem os alimente e não sabem cozinhar. Já o ser humano pode fazer isso, então eu sei que quem ainda não conseguiu parar de comer carnes vai conseguir porque os vegetais são muito bons”.
Pedro tem todos os seus argumentos baseados na religião, no espiritismo: “se Deus deu vida para os animais, nós não podemos matá-los”. Além disso, o pequeno é um admirador profundo e fiel de São Francisco de Assis (junto com seu pai, ele tem uma coleção com muitas imagens do santo). Ele adora contar que sua família inteira não como carne e explica que se queremos animais podemos adotar algum pequeno - o Pedrinho ainda não se conformou com o fato de uma girafa ser grande demais para morar na casa dele.
Um fato engraçado a seu respeito é que, mesmo sendo vegetariano, ainda tem, como muitas crianças, alguns problemas com legumes. Entre caretas de nojo ele reclama que a mãe sempre quer que ele coma brócolis, mas “nossa, é muito ruim!”.

Pedro Antônio mostrando sua coleção de "São Franciscos"
O outro entrevistado, por sua vez, nem sempre foi vegetariano. Gustavo Pelegrina, de 11 anos, escolheu recentemente, por sua própria conta em risco, que não comeria mais carne. Porém, essa não foi uma decisão tomada à flor da pele ou sem pensar: muito pelo contrário, o garoto estudou a fundo tudo que o consumo de carne pode trazer e os prós e contras de abandonar a alimentação onívora.
Começou na escola com uma aula sobre o aquecimento global. “Você sabia que a agropecuária é responsável pelo desmatamento de uma grande parte das florestas ao redor do mundo?”, me perguntou assim que nossa conversa começou. Mas, não se engane: os argumentos desse garotinho vão além da preocupação com os animais e o meio ambiente.
Gustavo se interessou tanto pelo assunto que passou dias em casa estudando e vendo documentários sobre os impactos da alimentação onívora (vale lembrar que ele tem apenas 11 anos). De acordo com suas descobertas, comer carne animal aumenta as chances de ter câncer e o vegetarianismo traz muito mais disposição e saúde.
Então ele resolveu testar. Numa tarde, voltando da escola, anunciou aos seus pais e irmãos a decisão de se tornar vegetariano. “Deu tão certo que levei quase todo mundo junto, só meu pai que ainda não conseguiu parar de comer carne”.

Os alimentos favoritos de Gustavo são quinoa, jiló e batata
Quando questionado sobre a reação dos adultos, Gustavo conta que muitos tentaram o desestimular falando que isso era “besteira de criança”. Mas, ele sempre soube que sua idade não era impeditivo nenhum para ter conhecimento e uma sabedoria que pode ultrapassar a de muitos adultos:
“Então eu não liguei para o que falaram, sabia que estava fazendo a escolha certa!”
Tanto com Pedro Antônio e seus argumentos baseados em sua espiritualidade quanto com Gustavo e sua racionalidade, essas histórias vieram para acabar de uma vez por todas com o mito de que “criança não sabe do que fala”.
Comments